sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Maicon

"Aquele ali está sempre com uma mulher diferente", diz Maicon apontando para um homem no início de sua calvície na mesa do canto, "e, a cada dois meses, ele troca o carro também. Ótimas gorjetas". Maicon é garçom de uma famosa pizzaria do bairro. Há 14 anos, ele encaminha os clientes a suas mesas, anota o pedido e serve. Maicon diz saber, com um único olhar, o perfil do cliente assim que ele entra no restaurante. "Os mais barulhentos ficam longe dos casais românticos, por exemplo", ele diz.

O restaurante tem espaço para fumantes e não-fumantes. O próprio Maicon sofreu no começo de sua carreira na pizzaria. "Era um fumante inveterado, igual uma chaminé. Mas os clientes percebiam o cheiro e não voltavam mais. Tive que parar. Hoje, abomino o cigarro". Com tantos anos de casa, ele já reconhece diversos clientes pelo nome e rosto. Alguns são antigos e sempre têm a mesma mesa reservada, nos mesmos dias e horários. Maicon emenda: "é uma longa relação. Creio que são poucos trabalhos assim hoje que permite construir esse tipo de amizade que acompanha toda a vida. Vi os filhos nascerem e crescerem".

Uma grande turma chega para um aniversário. Maicon encaminha a todos em um espaço que já estava reservado. Diz que nunca esqueceu de anotar um refrigerante que fosse. "Quando eu entrei, no meu primeiro dia, vi uma cliente que ficou revoltada com um colega por causa de um refrigerante errado. Ela jogou toda a bebida em cima do coitado. Aquilo me marcou muito", ele diz. No entanto, mesmo esse cuidado não impede de alguns clientes reclamarem de bebidas que foram cobradas a mais e que os escândalos aconteçam. Ao ser perguntado como ele reage quando um cliente faz escândalo, Maicon diz: "detesto conflitos, digo ao cliente ele que a culpa é nossa e desconto a bebida da minha gorjeta".

Sobre as gorjetas, Maicon não tem o que reclamar. "Sempre é possível encantar o cliente", diz o experiente garçom, com vários cursos sobre tipos de vinhos e como serví-los. Ele garante que o tratamento diferenciado com aqueles que são atendidos por ele garante ótimos retorno. "Vivo praticando em casa", diz ele, quase sem graça.

É hora de pedir a conta, Maicon insiste que é por conta da casa. "É a primeira vez que me pedem para contar a minha história". Ao fim, ele aceita o pagamento, mais a gorjeta.

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